O diretor Ang Lee nos conta o enredo da seguinte história: Após um naufrágio, um jovem indiano fica deriva em alto mar com um tigre chamado Richard Parker. O tigre come a zebra de patas quebradas e mata a mamãe orangotango. Agora o protagonista precisa sobreviver a sede, a fome, a insolação e ao tigre que também quer devora-lo.
Parece um filme sobre resiliência, superação e transformação. Mas o tema do filme discute o embate entre a ciência e religião. Ex. Hinduísmo, Catolicismo e Islamismo.
O protagonista se chama Piscine Patel, apelido PI. Ele é o veiculo desse conflito: Durante a infância PI conhece o hinduísmo através da mãe, o islamismo através da mesquita e o catolicismo através de um padre. Obs. Piscine, escolheu seu próprio apelido em homenagem ao numero matemático PI (3,14....) que representa o infinito.
Na cena do jantar em família, Piscine tem que lidar com as piadas de seu pai, que diz: - Se você se converter a mais uma religião. Você passará os próximos anos em feriados! O pai de PI representa a ciência, já que ele não acredita nas religiões. Afirma em uma das cenas: - A medicina ocidental fez mais pela humanidade em cem anos, do que as religiões em centenas de anos!
O pai chega ao extremo de a alimentar o tigre Richard Parker com uma cabra viva na frente de PI. Para lhe ensinar que as emoções que Piscine via nos olhos do tigre, eram dele próprio e não do animal selvagem.
O diretor discute todos esses assuntos, através de símbolos e metáforas. Esse pacto é estabelecido no inicio do filme, na cena onde PI se apaixonar por uma moça após assisti-la em uma aula dança. Na rua ele aborda Anandi e questiona o que significava o sinal que ela fez com as mãos, no final de sua coreografia. A resposta gera constrangimento em ambos, já que a moça claramente flertou com ele usando os movimentos da dança como símbolo para chamar sua atenção.
No meio da história o protagonista vai parar em uma ilha, que tem a forma de um corpo humano deitado como se estivesse morto. Em voz over o personagem diz: Tudo que a ilha dava de dia, ela tirava a noite!. Ouvimos isso, enquanto a câmera se afasta da ilha revelando a silhueta de um corpo humano.
No climax do filme, PI enfrenta a fúria do mar que choca ondas gigantescas contra seu pequeno bote. Ele perde as esperanças e no auge do desespero ele grita para Deus que está pronto para morrer. Aqui revemos o confronto entre a natureza e o divino, pois PI crê que é Deus quem está mandando as ondas para derruba-lo. O personagem não obtém resposta e seu desejo não foi atendido. Ele sobrevive.
Toda a estória é narrada através do protagonista adulto no tempo presente do filme. Ele conta uma segunda estória sem tigre, sem zebra e sem mamãe orangotango. O jornalista que escuta os relatos mostrados no filme, questiona qual das duas estórias era a real. PI adulto responde: - Lhe contei duas estórias, você decide em qual delas você quer acreditar!
A versão com o tigre soa como metáfora, para tornar palatável a realidade do que ele enfrentou. Enquanto a versão com fatos, nos faz questionar se PI e Richard Parker são a mesma pessoa.
Essa conclusão aponta novamente para o conflito central da estória: Ex.Fantasia ou Fatos? alusão a ciência e religião.
Agora me conta. Em qual das versões da estória você acreditou?
Por Vanderson Feitosa
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